BIOGRAFIA
por Naila Maia
Estevão Maya Maya nasceu José Estevão Maia, em 2 de setembro de 1943, no povoado de Pano Grosso, em Viana no Maranhão. O vozeirão baixo-profundo de timbre incomparável, o acompanhou desde cedo - seu pai Nhô, dizia que quando nasceu, Estevão berrava tão forte que lembrava um bezerro.
Em suas próprias palavras, Estevão, então conhecido como Zé Baixinho, foi um menino prodígio. Começou a ler e a escrever aos 3 anos de idade, e desde cedo contou com o apoio dos familiares investindo em sua educação.
Mais crescido, já se apresentava como cantor na região e em Penalva conheceu Padre Mohana. Este, reconheceu seu talento e encaminhou Maya Maya para a Academia de Música do Maranhão, em São Luís, onde foi instruído pelo professor polonês Bruno Wyzuj. A partir daí começou a se apresentar em canto coral, incluindo o Coral do Maranhão.
Na sequência, bacharelou-se em Música no Teatro, pela Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal da Bahia, em 1968. Os anos 1970 trouxeram passagens por Porto Alegre e pelo Rio de Janeiro, até Maya Maya se radicar em São Paulo.
Na música, destacou-se atuando na ópera Jesus Christ Superstar (que originou a gravação do LP da versão brasileira, na qual interpreta o personagem Caifás) e com a direção musical do espetáculo Hair, em São Paulo (ambos em 1972). Na mesma época, sua participação no Movimento Negro começava, e também a primeira formação do famigerado Coral Cantafro, aqui nesta igreja, então chamado Coral Juventude do Rosário.
Na década seguinte, seu talento literário levou à publicação de “Cantiga para gente de casa chegada em cima da hora”, em parceria com o conterrâneo Vilmar Ribeiro, e de “Regresso Triunfal de Cruz e Souza e os Segredos de Seu Bita Dá-Nó-em-Pingo-d’Água”, em 1982. Ano que também teve como destaque o show Síntese da História do Jazz, apresentado no hotel Maksoud Plaza.
Uma de suas paixões, a música erudita, o levou a fluência de línguas como o russo e o alemão, demonstrada em sua experiência como cantor lírico, que inclui recitais e concertos como solista, acompanhado de renomados pianistas e de grandes orquestras como a Sinfônica do Estado de São Paulo. Especialista em nomes como Schubert e Mussorgsky, teve a glória de cantar no famoso Teatro Colón, em Buenos Aires.
Notório pesquisador da música brasileira e afro-brasileira, o maestro teve em seu extenso currículo trabalhos de direção musical, como a ópera Ongira: grito africano (1980) e a gravação da trilha sonora do seriado Abolição, da Rede Globo, com o Coral Cantafro (1988). No cinema, pode ser visto nos filmes “Sonhos Tropicais” de André Sturm (2000) e “De Passagem” de Ricardo Elias (2002), tendo este último obtido cinco prêmios no penúltimo Festival de Gramado. Estevão Maya-Maya deixa duas filhas, Naila e Jamila, e o legado imensurável de sua contribuição para o cenário artístico afro-brasileiro como cantor, compositor, maestro, poeta, ator, que segue vivo em todos que tiveram o privilégio de conviver com este artista e ser humano extraordinário.
