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BIOGRAFIA
  por Jamila Maia

Estevão Maya-Maya era muita coisa - basta ver quantas abas esse site tem. Além de muitas atuações, era chamado de muitas maneiras.

 

Na família maranhense, era o Zé Baixinho.

Nos ensaios, o Maestro.

Para os amigos, o Maia, o Maya-Maya, ou ainda o EstevÃO, com ênfase na última sílaba, num aumentativo que refletia sua alma e ignorava seu 1,62m de altura.

 

Em casa, era o Pai, o Vovô.

E desempenhava cada um desses papéis com aquela simpatia que a gente não esquece - o sorriso fácil, a gargalhada sincopada que abraçava a gente, os causos, os bordões, os apelidos que inventava pra quem gostava... E a voz que lhe abriu tantas portas na vida e que atraía todos os olhares do entorno cada vez que ressoava, entre gente maravilhada e surpresa.

 

Como não admirar um percurso tão extraordinário?

Ele venceu todo tipo de adversidade imaginável - a fome, a falta de acesso à educação, o racismo - e chegou a lugares onde poucos artistas brasileiros chegaram. No caminho, entendeu sua condição de homem negro e deu uma contribuição inestimável para o movimento, com sua arte engajada e com seu posicionamento político. Com seus corais, fazia muito mais que ensinar as pessoas de todas as idades e perfis a cantar: nesses espaços, pessoas descobriram vocações e caminhos profissionais, fizeram amizades, se casaram, aprenderam sobre si mesmas e sobre o mundo, conheceram o prazer de estar em um palco levando emoção e alegria ao público. Como pai e avô, era uma presença suave e carinhosa, reescrevendo sua história familiar, cuidando com amor, no seu jeito plácido de homem que sempre sorria, mas que nunca chorava (nunca mesmo). Seu corpo guerreiro venceu um câncer e superou um AVC - só não resistiu ao descaso de um país desgovernado em pandemia, que permitiu que um vírus o vencesse.

 

E o que falar da sua espiritualidade? A igreja, o centro espírita kardecista, o candomblé ou o terreiro de umbanda, todos eram lugares que ele honrava. O sagrado era importante e tinha muito espaço - seus corais cantavam em missas, antes de palestras, com repertórios nos quais o sagrado e o profano se encontravam com beleza e harmonia. E o mundo espiritual frequentemente dava demosntração do quanto ele era bem-vindo e bem-quisto nesses espaços, graças à sua retidão de caráter, sua imensa generosidade e seu jeito de tocar e alegrar a vida das pessoas.

 

Como homem de carne e osso, também tinha suas questões e desafios como cada um de nós - a vida na Terra é um convite diário ao aprendizado e ao crescimento, e ele percorreu uma jornada muito bonita, mostrando sua força do início até o final dos seus dias entre nós. Estevão - o nosso Zé, nosso Maestro, nosso Maia, meu pai - deixou muito mais do que a riqueza que vocês vão encontrar nesse site. Ele deixou um pouco de si em cada pessoa que teve a sorte de cruzar seu caminho e desfrutar da companhia, dos ensinamentos, da amizade, da luta, da arte que emanavam dele. Esse foi o jeito que ele encontrou de cumprir sua promessa tantas vezes repetida: a de viver 300 anos. Parece que tá dando certo.

© 2022 por Mauricio Conforto

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