
MEMÓRIAS
Maurício Verderame
Facebook, 17 de Setembro de 2021.
A voz do trovão calou-se
E a terra rangeu, consumida
Suas raízes se retorceram e estalaram
Finalmente exaustas
A voz do trovão calou-se
Com ela se foi a festa, o riso e a cor
As vestes perderam a cor, puídas
Os sorrisos perderam a cor, silentes
A voz do trovão calou-se
E veio um vento morno, seco, estéril
Que sufoca e fatiga
Com cheiro de álcool, dor e distância
A voz do trovão calou-se
Calaram-se inúmeras outras vozes
Que com ela aprenderam de onde vinham
E contra quem se levantar
A voz do trovão calou-se
Orgulhosa do tempo que teve para ribombar
Da memória que ergueu, altiva
Porque dela se serviram os deuses
Com ela extasiaram-se os viventes
Levantaram-se os oprimidos que,
Espantados, viram-se como não se lembravam mais
Em riso. Em música. Em gozo.
Sem ela vai-se um pouco da alegria
Do jogo, da cantiga, do luar, do jongo
Encolhe-se um pouco a vida que ali pulsou, teimosa
Desbota, tristemente, o mistério de todas as coisas
Para meu "pai emprestado", Estevão Maya-Maya
